quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O porque da Cognitivo Comportamental?

Ontem fui buscar minha ficha de inscrição para um local que oferece um estágio de clínica que eu tenho muito interesse e na ficha me faziam diversas perguntas, tais como: referencial teórico escolhido e o porque da escolha dessa abordagem. Não tive dúvidas em colocar referencial Cognitivo Comportamental, mas na hora de dizer o porque, eu fiquei com algumas dificuldades. Parece tudo tão óbvio pra mim, a paixão por essa linha sempre foi algo tão grande desde o início da faculdade, que eu jamais havia parado pra questionar o porque de tudo isso e o que essa linha tem haver comigo que fez com que fosse "amor a primeira vista". Então ontem fiquei pensando nisso tudo e gostaria de dividir minha reflexão, pois gostaria de ter um bom embasamento do porque dessa minha escolha, que fará parte de toda a minha vida profissional.
A terapia Cognitiva foi desenvolvida por Aaron T. Beck no início da década de 60, como uma psicoterapia breve, estruturada, orientada no presente, para depressão, direcionada a resolver problemas atuais e a modificar os pensamentos e os comportamentos disfuncionais do paciente. De forma resumida, no livro da Judith Beck - Terapia Cognitiva, ela define que o modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou disfuncional (que influencia o humor e o comportamento do paciente) seja comum a todos os distúrbios psicológicos. A avaliação realista e a modificação no pensamento produzem uma melhora no humor e no comportamento. A melhora duradoura resulta da modificação das crenças disfuncionais básicas dos pacientes.
Claro, ao longo dos anos, a abordagem Cognitiva de Beck abriu canais para diversas outras teorias, algumas inclusive que me identifico mais, porém Beck será sempre o pioneiro dessa nova psicologia, surgida como alternativa a psicanálise, dentre outros motivos. Dentro dessa abordagem, encontraremos 8 princípios principais, que gostaria de pensar um pouco melhor em cada um neles dentro do meu perfil..
1 - A terapia cognitiva se baseia em uma formulação em contínuo desevolvimento do paciente e de seus problemas em termos cognitivos. Acredito que formular momentos em que o paciente se encontra durante a terapia de uma forma concreta, papel e caneta, faz com que o paciente enxergue de uma forma pontual sua melhora gradativa, ou entender seus momentos de recaída como sendo parte do processo, através dessas formulações. Eu não só me identifico com isso, como muitas vezes como paciente, precisei enxergar os fatos para que pudesse enxergar minhas evoluções pessoais, pois em momentos de recaída, temos a impressão de que não melhoramos nada e enxergar um papel que nos diz o contrário nos dá uma segurança que a minha insegurança faz parte do processo.
2 - A terapia cognitiva requer uma aliança terapêutica segura. Acredito que todos os futuros terapeutas acreditem nessa premissa, tão importante para um tratamento. Estamos sendo canal de escuta de problemas íntimos de pessoas que não nos conheciam, devemos construir juntos uma confiança mútua, que permita que a terapia tenha uma continuidade, que nos momentos mais difíceis o paciente não abandone o tratamento. Isso inclui diversas questões, como por exemplo, telefone disponível 24 horas por dia. Eu acho essa questão FUNDAMENTAL. O paciente não é nosso na quarta feira as 10:15h da manhã e deu, até semana que vem. Ele é uma pessoa, ele precisa saber que está sendo cuidado mesmo longe, que ele tem em quem se apoiar. É uma questão tão simples, um telefone disponível, mas por experiência própria, sei o quanto é importante saber que se pode ter acesso quando se precisa.
3 - A terapia cognitiva enfatiza colaboração e participação ativa do terapeuta. Esse tópico tem absolutamente tudo a ver comigo! A minha maior frustração quando havia entrado na psicologia era ter que desenvolver uma postura terapêutica diferente do meu perfil, como a psicanálise preza (não estou com o intuito de julgar outras abordagens, estou apenas explicando que meu perfil não se encaixa com a mesma) e encontrar na psicologia uma abordagem que acredita que o psicólogo tem uma participação ativa no processo de tratamento do paciente foi algo que me motivou muito, me fez ver que eu poderia realmente enxergar o tratamento como um trabalho em equipe, que eu não estava sozinha analisando tudo e que o paciente não estava sozinho passando por suas dificuldades e apenas me relatando elas. Então juntos, vamos trabalhar cada sessão, a frequência dos encontros, as tarefas, o que poderia ser falado na sessão, enfim, vamos trabalhar juntos para que ele possa, aos poucos, ser seu próprio terapeuta e, que ele possa depois seguir sozinho seu tratamento quando estiver preparado.
4 - A terapia cognitiva é orientada em meta e focalizada em problemas. É objetivo, é pontual, é estar junto a cada dificuldade, cada sofrimento, cada situação onde não se saiba o que fazer, onde se perca o controle. Toda pessoa possui alguma coisa que desejaria melhorar na sua vida e que diz respeito a formas de pensar e enxergar a vida. Isso é colocado em forma de meta, é esse o objetivo da terapia. Não quer dizer que seja apenas uma ou que não surjam outras ao longo do tratamento, mas o que importa é que, completa a questão do empirismo colaborativo citada acima. Novamente me identifico, é exatamente como eu acho que tem que ser, como eu gosto de guiar a minha terapia, como eu gosto de pensar meus problemas e minhas metas.
5 - A terapia cognitiva inicialmente enfatiza o presente. Vai de acordo com o item 3 e 4, porque do que adianta focar no passado, se o presente está acontecendo e precisa ser trabalhado? O passado surge de uma forma quase "automática", o nosso presente define quem fomos e o que fizemos no passado. Concordo que temos que deixar o paciente trazer o passado conforme sua necessidade, mas o foco é trabalhar o aqui e agora.
6 - A terapia cognitiva é educativa, visa ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza prevenção da recaída. Essa é a questão da terapia cognitiva que eu mais me identifico! Me sentiria tão onipotente se guardasse meu conhecimento apenas para mim, como se eu pudesse saber mais sobre o meu paciente do que ele mesmo! Trabalharemos juntos, começarei dando as coordenadas, ensinando algumas técnicas e formas de trabalhar a terapia, visando que, aos poucos, ele consiga ir fazendo essas técnicas sozinho e, crie uma autonomia de identificar todas as suas questões sem a minha ajuda, estando apto a seguir sozinho. Quando esse momento acontece, se faz a prevenção da recaída, se trabalha questões que podem acontecer novamente e deixamos que o paciente siga seu caminho, porque, na maioria das vezes, todos são capazes de cuidar de si mesmos, porque não cuidarem também da sua saúde mental?
7 - A terapia cognitiva visa ter um tempo limitado. É uma questão cautelosa, porque é muito subjetiva. Acredito que esse tempo limitado deva abranger a subjetividade, entendendo que o paciente tem uma forma e um tempo para progredir e, uma vez identificados, devemos manter também a meta de ajúda-lo da forma mais rápida que ele consegue processar as novas informações, as novas construções internas dele.
8 - As sessões de terapia cognitiva são estruturadas. Bom, essa é um item que eu não sou muito a favor, acredito que se perde um pouco da subjetividade ai, por isso acredito em outras abordagens de terapia cognitiva que consigam se apropriar desses preceitos de uma forma melhor elaborada, porém, acredito que sem estrutura alguma, a terapia perde o seu foco principal; psicoeducação e tratamento.

Antes mesmo desses princípios, devo pensar o seguinte: quando penso em mim como paciente, me vem na cabeça: quero entender o que acontece comigo, não quero estar fora do meu processo de tratamento e só receber informações mastigadas sobre determinados fatos. Quero analisar tudo junto, quero ver onde eu errei, quero ver o quanto meu afeto está disfuncional, o quanto o meu pensamento está distorcido, o quanto o meu passado está presente e como eu posso fazer para modificar o meu futuro. Quero que o meu terapeuta se importe comigo e demonstre isso. Quero poder rir e chorar, quero poder dividir questões muito difíceis, que meus amigos não entenderiam. A vontade de trabalhar a minha vida em terapia, se baseia em quase todos os princípios da terapia cognitiva. Acredito SIM, que a Terapia Cognitva não é para todos, assim como o Humanismo, a Psicanálise e tantas outras, mas acredito que a Terapia Cognitiva é a abordagem mais eficaz para questões específicas da minha vida e, da vida de muitas pessoas.

Por fim, escutei uma professora falar em sala de aula algo que vai ficar pra sempre marcado em mim, pois eu sempre pensei isso, mas nunca consegui colocar em palavras de forma tão brilhante e simples: "Não somos nós que escolhemos a teoria, é a teoria que nos escolhe". E acho que foi exatamente isso que aconteceu com a Terapia Cognitiva, ela me escolheu antes mesmo que eu conseguisse saber o porque.
Sendo assim, boa sorte pra mim nessa caminhada de entrevistas de seleção de estágio, que eu consiga um lugar muito bom para exercer com a maior motivação que eu tenho, a psicologia clínica dentro da terapia Cognitivo Comportamental.
Bom resto de semana a todos!

2 comentários:

  1. Lu! adorei o texto.. e de uma forma mais leiga eu concordo plenamente. Com certeza a chave pra tudo tá no presente. E na forma como olhamos e vivemos ele! Acho que qualquer pessoa projetada pro passado ou pro futuro acaba encontrando diversos tipos de problemas.. tu sabe né, eu sou defensor assíduo do AQUI e AGORA!
    Love you babe! tô te seguindo ;)

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  2. Oi Luisa!

    Lendo teu blog, tenho certeza que o teu nome, que escolhi como uma das duas indicações lá no SAPP, foi uma boa escolha! ehehehehe

    Um beijo

    Lauren

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