sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Perversão de Freud ao DSM-IV

Perversão é um tema que sempre gerou grande polêmica na Psicologia, seja ela no conceito Perversão de Freud, seja pelas características do DSM-IV, seja pela idéia de que cada pessoa tem da origem e função da palavra. Entre muitas áreas que me interessa, o tema perversão e suas diversas faces é algo que realmente me fascina, não tanto por suas características, que normalmente se remetem a conotações negativas, mas o porque, de fato, que a perversão existe.

Freud pontua perversão como uma forma de relação ao objeto e que essa relação estabelece um caráter perverso. Essa relação se dará na forma de dominação de uma pulsão parcial, de origem infantil, mas que não mais se encontra no psiquismo infantil e sim, de um adulto. No que antes era chamado de criança polimorfa perversa, que nada mais é do que uma criança que obtém prazer de qualquer lugar de seu corpo ou do externo, com a intenção de gerar estímulos prazeirosos, agora se transforma num adulto, que não mais se apropria da perversão como construção do psiquismo e sim, para forma de satisfação sexual, com "maldade". A pulsão parcial que o perverso possui tem como fonte de excitação sexual uma zona erógena que não a do adulto normal, os genitais. Ela vai se manifestar em outras áreas, como o voyer por exemplo, sempre se utilizando de partes do corpo ou objetos fetiches para fins de satisfação sexual, como substituto de zonas corporais.
O que para psicanálise divide entre duas crianças, na qual uma não tem um fim perverso na adultez e o outro tem? Na fase pré-edípica, a criança não tem juízo moral e é preciso que haja um momento de introdução da lei, do certo e errado para que a criança possa estruturar seu psiquismo e recalcar suas vivências infantis. Uma criança que não tem uma figura de lei para lhe dar as noções de certo e errado, vai crescer e continuar naquele infantil, o recalcamento não se efetiva e a pulsão parcial segue dominante na relação com o outro. Essa criança se destina então a um crescimento sem estabelecimento de regras, sem reconhecimento da lei. O adulto perverso então faz uso do mecanismo do repúdio, onde ele não tem condições psíquicas para reconhecer o outro e acaba repudiando a realidade existente. Outro mecanismo que o perverso se apropria é o da desmedida, onde o psiquismo faz uma cisão do ego que divide e não reconhece a lei como lei, desautoriza aquilo que foi percebido.

A partir do conceito de Freud, algumas atualizações foram feitas, mas muito se concretiza a partir desse estudo. O DSM-IV vai criar uma categoria de Transtornos Sexuais englobando as Parafilias, como Exibicionismo, Fetichismo, Frotteurismo, Pedofilia, Masoquismo Sexual, Sadismo Sexual,  Travestismo Fetichista, Voyeurismo e fetiches sem outra especificação. A partir desse olhar, podemos ver que o conceito de Freud ainda é muito forte no entendimento global da doença; é toda e qualquer doença onde a sexualidade do sujeito não se apropria do caráter genital, de uma sexualidade adulta e madura e sim, de uma sexualidade infantilizada, onde não reconhece o outro (exibicionismo, onde não se importa com a lei ou com o sentimento das outras pessoas, o espanto inclusive excita) ou onde estabelece uma relação de dominação sem concentimento do outro (como na pedofilia).

Por mais que Freud e a psicanálise não sejam os referenciais que eu quero me apropriar na minha prática da psicologia, não posso deixar de pensar que existe de fato algum desvio no crescimento dos ditos perversos, que fez com que o rumo sexual deles fosse diferente da sexualidade dita normal e Freud tenta explicar isso de uma maneira bem consistente. Por outro lado, pela minha forma de ver as coisas, esse é apenas uma visão do início desse problema, pois eu sempre acredito que a genética, o ambiente e as vivências dela vão modificar para sempre a forma como esse futuro adulto enxerga o mundo, enxerga a si mesmo e as outras pessoas. Por mais que existam diversas explicações, volto a eterna dúvida de que cada pessoa tem sua subjetividade e sempre existirá um caso que não ficará englobado dentro desses blocos explicativos.
Essa postagem serve como introdução a futuros pensamentos a respeito desse tema, mas uma universitária doente não consegue ficar muito tempo raciocinando no computador...
Boa tarde a todos!

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